A bota e a perdigota

Viver na Lourinhã é sem dúvida um privilégio, uma terra de verdadeiros achados. Bem sei que vivemos um período conturbado, mas aqui para estes lados ninguém se deixa abalar por coisas menores. Que o digam os nossos decisores políticos, aqueles que o povo da Lourinhã escolheu democraticamente em 2013, para liderar os nossos destinos por mais quatro anos.

Durante a campanha, ouviram certamente o elencar de razões pelas quais não faria sentido mudar: os seus elementos tinham larga experiência governativa, obra feita e se havia problemas a culpa era da crise ou do governo. Por outro lado, quem se propunha como alternativa não tinha experiência, competência ou capacidade sequer. Estranhamente surgem sempre os rumores que ao mudar vai haver despedimentos, os serviços deixarão de funcionar, os pagamentos a quem de direito não serão feitos. Enfim, o caos, a desordem, o apocalipse. Os enredos pelos quais, teimosamente, nos deixamos levar de quatro em quatros anos.

Enganam-se ao pensar que no início me referia aos achados arqueológicos, esses coitados continuam à espera, mas o que será mais um par de anos para quem já esperou milhões? Refiro-me, sim, ao actual discurso político. É que, ouvindo quem governa o Concelho, não bate a bota com a perdigota. Vejamos:

Sobre a Pisoeste o Presidente empata, cita Cavaco “Ainda está para nascer pessoa mais integra do que eu”. Irónico quanto baste, mas se tinham tanta experiência acumulada, não era já tempo de sabermos o que aconteceu ao raio do alcatrão? Sinceramente e bem lá do fundo, mas mesmo bem do fundo, espero que seja um lapso administrativo. É que, olhando para as nossas estradas, se assim não for resta-nos evocar a Santíssima Trindade.

Gosto particularmente quando 0 Presidente afirma, sessão após sessão, que está a trabalhar de uma forma diferente. Ou, quando o nosso ilustre Vice-Presidente afirma que as coisas demoram tempo, que ainda estão no início do mandato. Confusos? Pudera. É que supostamente, eles já sabiam como governar, já sabiam fazer tudo e segundo eles faziam-no bem feito.

E o que dizer da aparente discordância que a nossa Vereadora, responsável pelo Pelouro Financeiro, tem pela forma como as finanças do Município eram geridas ao afirmar que apenas assumirá compromissos para os quais existam verbas disponíveis? Como classificará o anterior executivo segundo os seus altos padrões?
Mas admito que são coerentes na incoerência. Até a bancada da maioria não se fica pelos ajustes. Na sua eloquência, o seu líder bate no Coelho a torto e a direito, “Ele só sabe aumentar impostos, cortar nos apoios sociais, reduzir as transferências para os Municípios”. Ingénuo como sou e falando baixinho para os meus botões disse: “Vão baixar a taxa do IMI para ajudar a malta que é pobre, com as novas regras o Município vai receber muito mais e assim alivia-se o povo”. Bem prega Frei Tomás.

Já alguém dizia a primeira vez que me enganares, a culpa será tua; já da segunda vez, a culpa será minha.

Publicado no Jornal Alvorada

TAGS

Categories

Política

Comments are closed

Latest Comments

No comments to show.